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As desigualdades sociais em tempos de pandemia

Atualizado: 16 de ago. de 2022

Portugal é um dos países da OCDE que mais se destaca no âmbito da escolaridade pública. Possuímos doze anos de educação gratuita e o país ajuda ainda cerca de 20% de alunos universitários com uma bolsa social - segundo um comunicado da DGES, até ao dia 09 de março do ano corrente foram atribuídas 74.809 bolsas de estudo a estudantes do ensino superior; tendo vindo constantemente a reduzir as propinas do ensino superior. Cerca de 80,2% das instituições escolares portuguesas são públicas e consideradas de qualidade.

O sucesso educacional português deve-se, em parte, à formação de professores, que tem vindo a ser cada vez mais exigente, e à luta pelas desigualdades educativas. No entanto, muitas instituições falham ainda no panorama das infraestruturas, nomeadamente na falta de investimento no aquecimento das instalações, especialmente a sua manutenção, e na proliferação de meios tecnológicos, tanto para alunos como para professores.


Apesar da promoção constante da igualdade entre estudantes, através dos subsídios, livros gratuitos, apoio no material escolar, transporte, entre outros, o facto é que a pandemia veio acentuar este contraste e já fez um preocupante número de estudantes universitários abandonar os estudos.

O Estado Português prometeu, no primeiro confinamento, distribuir portáteis e routers de internet pelos alunos mais carenciados, pois observou que quando a escola online se iniciou repentinamente, a população não estava, de todo, preparada, já que constatou uma incipiente preparação das famílias para abraçar este formato de ensino. Milhares de alunos ficaram prejudicados pela falta de equipamentos, mas não só. Numa família com menos posses económicas, muitas vezes, também não existe um ambiente agradável que possibilite a concentração, tanto por razões de falta de espaço, como da própria esfera familiar. É evidente que este “mau ambiente familiar” não é inerente apenas a estas famílias, mas quando juntamos as dificuldades, é lógico quem é que tem a maior perda.

Infelizmente, este atraso na aprendizagem dos alunos, poderá trazer consequências a longo prazo. A motivação, o empenho e a vontade de continuar a estudar e a trabalhar sozinhos, acabará por se perder. Os alunos, especialmente os mais novos e do interior do país, não têm sequer qualquer tipo de ajuda, porque os pais não têm como ajudar os seus filhos.

Como promotor de igualdade, o Estado deve assegurar-se de que todos os alunos com, pelo menos, o primeiro escalão, recebem os equipamentos necessários contribuintes para um bom aproveitamento escolar. Para além da possível descida de notas, a estes jovens acresce ainda o problema da estabilidade mental e emocional. Ficam incapazes de gerir as suas emoções, tarefas e estudo, prejudicando o seu futuro.

No entanto, não são só os alunos mais carenciados que estão com problemas. Centenas de alunos com deficiência são afetados por estas medidas todos os dias. Uma criança com Síndrome de Down, se não for acompanhada muito regularmente, acaba por ir perdendo o conhecimento já adquirido.


Outros alunos incapacitados, com problemas de visão e surdez, por exemplo, acabam por ficar ainda mais atrasados, devido à falta de profissionais e recursos que, numa situação comum, os ajudariam com proximidade. Pais veem os filhos serem abandonados sem poderem contribuir para o seu desenvolvimento, visto não possuírem as competências para o fazer. Todavia, é de ressaltar que esta questão não é uma realidade em todas as escolas. Há, pois, estabelecimentos que dedicam um maior esforço no acompanhamento destes alunos. Esforço que tem de ser valorizado e replicado em todas as instituições de ensino em que esta realidade se verifique.


É um problema que tem de ser resolvido com rapidez, para que absolutamente ninguém fique para trás. É essencial lutar por uma sociedade igualitária, que conceda as mesmas oportunidades a todos os alunos, já que estas surgem, na grande parte das vezes, através da escola, seja ela ensino secundário regular/profissional ou superior. É a escolaridade pública que iguala os jovens portugueses, mas se os apoios externos não são distribuídos de forma eficiente, esta promessa acabará por prejudicar ainda mais os já prejudicados.


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