top of page

As vantagens de um Gap Year

Atualizado: 26 de jan. de 2021


O término do 12º ano assusta muitos alunos, não só pela mudança radical que se preparam para enfrentar, mas por terem que tomar uma decisão que influenciará, potencialmente, as suas vidas. Esta decisão é, de facto, preponderante para o futuro de qualquer estudante, mas não é tão limitativa quanto esperamos. E se eu não gostar do curso? E se me aperceber de que não é o que quero fazer? Simples, muda de curso! Pode parecer mais complicado do que na realidade é, e não significa, de maneira nenhuma, que erraste ou que foste imponderado na tua escolha anterior. O processo de auto descoberta de cada um de nós vai-se fazendo, não nascemos a conhecer quem somos e do que gostamos na plenitude, são as várias experiências e os momentos que nos são proporcionados e que proporcionamos a nós próprios que vão ampliar o conhecimento que temos sobre o “eu” que estamos, continuamente, a construir. Isso envolve, também, esta questão da escolha de curso. Hoje deixamos aqui registado o testemunho do Vasco Calixto, ex-estudante da escola Soares Basto, em Oliveira de Azeméis, e, atualmente, aluno do curso de Economia no ISCTE-IUL que tem um percurso fascinante e muito diferente do da maioria dos alunos. Para vos deixar curiosos… a sua primeira escolha de curso foi Medicina, curso que ele nem chegou a frequentar.


O Vasco terminou o 12ºano e decidiu fazer um gap year, uma espécie de ano sabático, uma pausa nos estudos antes de retomar o ritmo de vida acelerado que o esperava na universidade (se quiseres saber mais, consulta o nosso post que se debruça sobre este mesmo assunto). A sua ideia inicial era, posteriormente, tirar o curso de Medicina, num objetivo que sempre o acompanhou de ajudar as pessoas, tendo chegado mesmo a candidatar-se e a entrar. A questão coloca-se, então: o que o terá desencadeado a mudança?

“ Isto aconteceu quando eu estava a fazer voluntariado na Índia. Eu não cheguei mesmo a frequentar medicina, mas era uma coisa que eu queria fazer e tinha aquela vontade de ser médico sem fronteiras, mas depois, durante a minha viagem tive tempo para pensar e comecei a questionar se realmente era aquilo que eu queria e cheguei à conclusão que para ajudar pessoas não tinha necessariamente que ser médico”. Esta reflexão foi muito importante para o Vasco “Apesar de eu gostar de tudo, eu sou uma pessoa que gosta de muita coisa mas a minha paixão sempre esteve muito direcionada para a economia, gestão de projetos e nessa altura comecei a pensar muito sobre isso. “ E ele pensou muito sem dúvida! “Hoje acho que não podia estar em melhor curso”, disse-nos ele.

A sua história deixou-nos muito intrigados e quisemos saber um pouco mais sobre o período que antecedeu o gap year, nomeadamente as razões subjacentes a esta ousada e muito corajosa opção, e o período pós- experiência. “Numa fase inicial, eu acho que sempre tive esta vontade de fazer voluntariado e de ir sozinho à descoberta. Ainda tentei convencer alguns amigos a princípio, mas apercebi-me de que não era possível e pensei que se queria mesmo fazer isso tinha que ir sozinho. Tive que falar com os meus pais e numa fase inicial foi difícil convencê-los mas com algum trabalho consegui, apresentei-lhes as coisas todas direitinhas, os meus planos e, felizmente, eles deixaram."

Mas nem tudo foi fácil no que concerne ao planeamento do seu gap year, aliás, ele relata que ficou algo desmotivado quando pesquisou e se deparou com a realidade dos preços. “Mas depois descobri a Workaway, que é uma plataforma incrível, com anfitriões locais, máximo de 5 $ por dia e a grande maioria dos projetos já vem com alimentação e alojamento, e são coisas mesmo locais e realistas, autênticas, o que torna a experiência muito melhor. Na altura vi vários projetos e organizei a viagem por forma a tentar passar em várias culturas diferentes e também, para além de fazer voluntariado, conseguir explorar e viajar. “ Foi, irrefutavelmente, uma experiência que todos nós deveríamos ter na vida, é muito importante sairmos da nossa zona de conforto e termos o atrevimento de partirmos à aventura e aliar o lazer à solidariedade. Quando regressou, e um bocado decorrente do choque entre culturas que presenciou tão diretamente, o Vasco relata que, no primeiro mês andou um bocado mal, “por nenhuma razão em particular”, disse ele, “mas comecei a valorizar as pequenas coisas, ter uma cama só para mim, usar água quente, que não usei durante muito tempo, ir ao supermercado e haver mil e uma coisas para comprar, isso foi sem dúvida interessante”. Para rematar, comentou que a experiência surtiu um efeito enorme na sua pessoa, “voltei uma pessoa mais madura, tornei-me uma melhor pessoa e foi uma experiência que me abriu muitas portas, não só nesta esfera, mas também do ponto de vista académico, do associativismo, abre mesmo muitas portas que, de outra maneira, dificilmente teria acesso”.

Quando questionado em relação ao curso, “ estou mesmo muito satisfeito. Eu sempre gostei muito dos temas das ciências sociais. Inicialmente, tinha algumas dúvidas entre economia e gestão, muitas pessoas diziam que ia dar ao mesmo, e eu não sabia bem a diferença, já que venho de ciências e tecnologias, mas agora não acho que seja bem assim.” Para ele, “economia dá-nos uma visão muito mais geral das coisa, e como licenciatura, era isso que eu queria, ter uma base mais ampla para depois, se quiser, fazer um mestrado mais específico. Neste momento estou super satisfeito, honestamente e, se for mesmo por prazer pessoal, até pondero o mestrado em Economia, a não ser que apareça uma oportunidade que me norteie para outra via.” O primeiro ano no curo é, no ponto de vista do Vasco, mais voltado para o pensamento económico em toda a sua extensão, “não é economia pura e dura, é mais geral, esta abrangência tem-me agradado”.


A experiência deste exímio aspirante a economista no gap year moldou-o de tal modo que, enquanto está a tirar o seu curso, ele vai conciliando um projeto que iniciou quando estava no Quénia, Soweto Youth initiative. “Quando estive lá, vi que eles tinham umas condições muito más e queria ajudá-los de alguma forma. Entretanto, um grande amigo meu que é programador ajudou-me muito neste processo todo e decidimos que íamos fazer um site que contemplasse vários projetos, para eles terem mais estabilidade financeira, um programa de apadrinhamento dos miúdos, um programa de alimentação que eles até já tinham, mas criar novas formas para eles poderem expandir isso para o mundo e para que as pessoas pudessem fazer donativos mais frequentes. Foi quando começou isto do covid que iniciámos um plano de emergência. Os rendimentos das pessoas eram muito incertos e dependiam de certos biscates que se foram dissipando devido ao medo de contágio, deixando as favelas sem recursos.” Futuramente, ele fala de mais projetos que possam oferecer mais projeção social a estas pessoas numa tentativa incessante de lhes garantir melhores condições de vida, que é, aliás, um direito que devia ser transversal a todo o ser humano…

No secundário, o Vasco estava, pode dizer-se que bastante convicto de que queria ser médico e o gap year não foi com o objetivo de descobrir coisa relacionada com os cursos, “eu cheguei mesmo a estar matriculado na Universidade do Minho, mas lá está, depois, por acaso, comecei a pensar nisso e cheguei à conclusão de que queria Economia. Não foi difícil, propriamente, digerir esta conclusão, foi difícil chegar até ela, porque já era um dado quase adquirido que eu ia para Medicina, mas os meus pais acharam incrível, pois acreditavam que eu ia sofrer muito em Medicina. De uma forma geral, eu não mudei de curso como a maior parte das pessoas que mudam, querem ir para o curso, não gostam e vão para outra coisa. Simplesmente pensei muito e decidi seguir a minha paixão, e não apenas algo de que gostava”.

Não é fácil saber o que queremos logo à primeira. Tens aqui um exemplo disso mesmo, mas que demonstra o quão importante é pensarmos bem nas nossas decisões e não termos receio da mudança e de recomeçar. Nunca será uma perda, mas sim um ganho pessoal, é preciso que se vença este estereótipo. São estas experiências que nos vão moldando e atestando a singularidade de cada ser humano que foi desenhado, precisamente, para errar e, indissociavelmente, para saber como se resolver.

107 visualizações

Artigos Recentes

bottom of page